O Natal



'Foi bonita a festa, pá!'

O 25 de Abril é como o 25 de Dezembro. Só acontece uma vez por ano, triste facto, triste fado. Hoje, a poesia está na rua. Toda a gente faz belíssimos discursos sobre a liberdade. Toda a gente faz manifestações e dá o corpo ao manifesto (ou, pelo menos, ao sol da praia, se a meteorologia, que é uma ditadora cheia de caprichos, o permitir). No resto do ano, impera o medo, o cinzentismo e a pasmaceira, a falta de pão e habitação, a pobreza envergonhada e escancarada, a caridadezinha à Jonet em vez da solidariedade e da repartição da riqueza justas e civilizadas, a cultura só para alguns privilegiados, o abandono escolar, um salazarista em cada esquina e pastelaria a pedir de novo Salazar. Entretanto, os tiranos e tiranetes, fascistas e fascizóides, pequeninos ou grandessíssimos Salazarinhos, herdeiros e rendeiros do outro, neste neoliberalismo que nos calhou em sorte, ou azar, ao sol e na sombra, continuam a fazer do povo e desta vila morena à beira mar plantada o que querem e lhes apetece. 

Comentários